sábado, 16 de agosto de 2008

Amor não se verbaliza no tempo

E quem um dia irá dizer que existe razão para as coisas feitas pelo coração?

Oi... Feliz aniversário! Não, não fala nada, só ouve... tô ficando louca!... não sei o que tô fazendo, me sinto ridícula, eu, eu... me sinto a Vera Fisher... sabe a Vera Fisher com o Felipe Camargo? Não! Você não sabe, porque não é do seu tempo...
Aff, nunca pensei em falar isso: "Não é do seu tempo. É um sinal de que eu tenho que te esquecer... e esse tempo, você acha que eu vou conseguir suportar o tempo passar? Não, você não tem que achar nada, porque eu não te pedi pra falar.
Você só vai ouvir... eu tô me sentindo ridícula... eu acho que eu já falei isso... eu comprei um All Star pra você... e o pior, comprei um pra mim também! Sabe o que eu fiz ontem? Eu baforei dentro do meu carro fechado e escrevi nossos nomes no retrovisor!
Eu, eu... outro dia eu escrevi com o suor da cerveja o teu nome na mesa. Daqui a pouco vou comprar papel de carta colorido... Oi? O que é papel de carta? Ai... Pára de falar... Eu não ouço mais ninguém... Sabe de uma coisa: caguei pra opinião dos outros.
Por que você não pode me dar nada? Quem disse que eu quero alguma coisa? Quer dizer... eu quero sim, quero você pra mim! Eu não tenho que ter medo de perder você para uma menininha da tua idade, porque você tem que ser muito idiota em me trocar por alguém da tua idade... E outra: eu achava lindo a Vera e o Felipe, a Elba e o Gaetano. Eu só queria"...

Desligou o telefone assim que o avistou na esquina. Esperou impaciente fora do carro, na chuva. Sentiu-se jovem, livre, feliz. Como saída de uma daqueles livros cafonas com nome de mulher e desenhos de casais se beijando na capa. Ele desceu, riu e descobriu porque nunca a tinha visto de cabelos molhados. Ela descalça com os sapatos na mão esperou que ele corresse em sua direção.
Conheceram-se através de um amigo em comum. Tinha saído ferida de um relacionamento desgastante. A última coisa que queria naquele momento era se envolver com alguém. Costumava dizer, como na música, que: "Seu mundo estava fechado para visitação".
Na pracinha que costumava ir aos sábados com amigos ela acabou reencontrando um que há muito não via. Mal olhou para os lados e não deu muita importância a quem o acompanhava. Cumprimentou-o com um "oi" simpático e nem chegou a trocar um beijo no rosto. Em um daqueles típicos dias de outono em que amanhece frio e no meio da tarde o calor já se tornava escaldante, a cerveja servia como ótima parceira.
Com tantos amigos ao redor ela pouco pôde dar atenção a alguém específico, no entanto, as poucas palavras que trocaram foi suficiente para despertar o interesse dele e, no final da noite, já em casa, recebeu uma mensagem pelo celular: "Câncer combina com Aquário? rs. bjs F.R."
Demorou até lembrar de quem se tratava, depois se surpreendeu dele saber até qual o seu signo. Passada a empolgação repentina de mensagens recebidas num sábado à noite, o esqueceu e deixou de lado, até que no dia seguinte, depois de assistir a um espetáculo de teatro, o acaso colocou novamente os dois frente a frente.
Juntaram as mesas e com tantos amigos reunidos, a cadeira estrategicamente posta ao lado dele fez os outros ficarem a parte e por muito tempo eles não viram as horas passarem. Riram e se divertiram muito com as afinidades e com tantas outras coisas em comum, com exceção de um fato: ela tinha quase dez anos a mais que ele.
Ele havia deixado ela encantada, boba. Mas uma balzaquiana, embora telespectadora assídua de Sex and the City, que se preze tratou de catalogar os prós e contras no seu caderninho e depois de muitas conversas com amigas passou a recusar suas investidas em ir ao cinema, responder os recados no orkut ou atender suas ligações.
Se a astrologia ela seguia a risca, reconhecer o acaso e dar uma ajudinha para o destino faria a diferença. Foram inúmeras às vezes em que se encontraram sem marcar nada, e não por vontade própria, os amigos em comum foram aumentando e tornou-se quase impossível ficarem sem se ver com freqüência. Cada dia que passavam juntos ela ficava mais encantada com sua vontade de viver, com sua maturidade e seu despudoramento em ser feliz. Era claro que ele a fazia sorrir.
O primeiro beijo aconteceu na fila para o banheiro da boate. A atitude partiu dele e como ela tinha bebido um pouco além da conta, sumiu no meio da festa assim que suas bocas se separaram. Ficou dias sem atender e responder seus recados. Tinha medo de se entregar, de se machucar.
Na véspera do aniversário dele, ela deixou na portaria do seu prédio um embrulho com um tênis e um CD que ela mesma gravou com músicas que eles gostavam. Deixou em um horário que sabia que não correria o risco dele aparecer e surpreendê-la por lá. Ficou na esquina, dentro do carro. Viu a hora em que o porteiro o entregou. Chegou a deixar o telefone desligado e à meia-noite, não resistindo, ela ligou.

http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?ID=15&cd_news=41700&cd_city=1

Chega de Saudade!

Tema recorrente em todos os meus textos e conversas, palavra que os brasileiros se orgulham de constar somente no nosso dicionário, a saudade é um sentimento que não possui antônimo nem sinônimo, é aquela que se adapta às coisas boas.
Hoje, como referência juntei três fatos, direta ou indiretamente a saudade me aponta e segue como fio condutor para esse texto.
Gosto de ir ao cinema sozinho. Claro que dividir uma sessão com alguém é uma delícia, mas também não me incomodo de pegar meu caneco de pipoca, me esparramar na poltrona da sala escura sem ninguém ao lado. Na semana passada resolvi pegar a última sessão de uma quarta-feira. Optei por Chega de Saudade da Laís Bodanzky. Pouca gente na platéia por causa do horário, mas ambiente melhor impossível pra acompanhar aquela história.
Filme lindo simples e por isso achei tocante. Me vi naquelas pessoas. Naquele salão entre uma dança e outra você vê a saudade de alguém que se foi, de alguém que queria ter sido, de um abraço que não foi dado. O nome do filme cabe como uma luva.
Sempre vi a velhice com olhos de melancolia, cada ano que passa sinto saudade de algo ou alguém que passou e fica apenas na memória. Confesso que tenho medo de viver do passado, vivo muito o presente, intensamente, mas volta e meia me policio em não ficar recordando o que já foi. O complicado é que adoro ouvir música antiga, até de um tempo que nem é meu, e música pra mim é a verdadeira máquina do tempo. A saudade vem a galope.
Falando nisso, já cheguei na fase de falar: - Isso é do meu tempo. A conversa com um amigo foi outro fato que me levou a escrever. Ele morou fora do Brasil e não nos víamos há mais de dois anos. Depois de colocar os papos em dia ficamos recordando um tempo em que trabalhamos juntos e discutimos sobre a saudade. Ele me colocou como referência o filme Paulinho da Viola -Meu tempo é hoje, nele o Paulinho fala justamente sobre aquela frase "no seu tempo", que costumamos usar para referirmos a uma época que já passou, que uma pessoa já viveu. "Ah, mas no meu tempo era diferente, no seu tempo" Ele diz que o tempo dele é hoje, pois ele ainda vive tudo, e que ele não tem saudade do passado porque o seu passado está sempre com ele.
Interessante ver a saudade como algo físico, presente. A melancolia causada pela lembrança, saudade resume muitos sentimentos. Às vezes escrever apenas "Saudade" pra alguém já é o suficiente pra demonstrar a mistura de um sentimento que unem tantos outros num só.
O último fato pra mencionar aqui é a música tema dessa coluna, título do filme e do bolachão que originou o movimento Bossa Nova. Aproveitando os cinqüenta anos recém completados, essa em especial mistura sentimentos de perda, distância e amor que o dicionário defini esse sentimento que ora nos coloca um sorriso involuntário no canto da boca, ora deixa nos olhos uma lágrima que ameaça cair.
Sinto saudade de amigos que passaram, parentes que se foram, da minha mãe que mora longe, de conversar no final da noite com meus irmãos, da infância que passou rápido, do tempo que não precisava pagar contas e sobretudo de alguém que nunca fui e queria ter sido. Mas chega de melancolia! Vou seguir o que o Paulinho fala e viver mais o presente. Li certa vez que o ser humano passa mais da metade da vida pensando no passado e no futuro e deixa de viver o hoje. Vou deixar pra recordar músicas e fatos num salão de baile daqui a alguns anos. ... Dentro dos meus braços, os abraços Hão de ser milhões de abraços Apertado assim, colado assim, calada assim ...

O riso e o risível

Outro dia, esperando o ônibus na rodoviária voltando do meu espetáculo, sentei ao lado de um grupo de pessoas e me senti o sujeito mais mal humorado do mundo. Era uma terça-feira à noite e, passava na TV o programa Toma lá dá cá. Eu não entendia aquela comoção de risos e eu parado, assistindo aquilo ia ficando era cada vez mais irritado.
Minha apresentação tinha sido ótima e eu só queria ir pra casa descansar. Mas aqueles minutos antes de chegar a hora de embarcar fez o tempo parecer uma eternidade.
Divido o apartamento com um amigo que precisa de 15 minutos antes de dar um "bom dia". Sei o que é acordar às vezes com a "pá virada". Mas hoje é difícil alguma coisa me tirar do sério, normalmente levo a vida numa boa. Conversando com outro amigo sobre a história da rodoviária, ele comentou um fato parecido. Recentemente ele deu de presente para o pai, que adora programas de humor, um DVD do espetáculo Terça Insana. Ansioso com a reação dele, colocou de imediato para assistirem juntos, e enquanto ele morria de rir com quadros que já assistira uma dezena de vezes, o pai sequer mexeu um músculo do rosto.
Longe de ser uma questão de gosto, acredito que o chamado humor inteligente está cada vez menos prestigiado. Não sei se existe uma classificação para tipos de humor, eu vejo dessa maneira. Parece que cada vez mais as pessoas querem rir sem pensar, parece que voltamos aos estereótipos da Comedia Dell´ arte com o sujeito bonachão, o avarento e o corno que por si só já fazem rir de cara, independente de abrirem a boca.
Programas de humor para TV como Comédia da Vida Privada, Os Aspones, O Sistema e tantos outros do gênero não têm vida longa. O humor popularesco é a bola da vez. É o humor fácil, entregue de bandeja.
Há quantos anos existe o Zorra Total? O que são aquelas risadinhas gravadas postas depois daqueles bordões bobos com atores tão caracterizados que você nem os reconhece quando não estão em cena.
Falo em caracterização porque se eles usam desse artifício e fazem humor, queria entender porque um ator do porte do Chico Anysio é considerado ultrapassado? Qual a diferença entre ele e o Tom Cavalcante? Vai ver todos sabem a resposta: um é o criador, outro é a criatura.
E sou da época em que Os Trapalhões eram quatro e eu morria de rir daquelas situações que ainda hoje o Didi Mocó tenta continuar, mas não me faz parar nem cinco minutos no mesmo canal. Não sei se a faixa etária tem a ver com isso, o humor inocente dele não me atinge mais, não sei se estou velho ou sem paciência pra certas coisas. Mas meu porteiro é um senhor de 60 anos e morre de rir! E morro de rir dele morrer de rir.
Não é de hoje que me pego irritado com certas coisas. Festa infantil não faço mais, de jeito nenhum. Tenho vontade de dar uma bica naquele animador com voz infantil que fica pulando com roupa colorida. E aquelas fantasias de bonecos que não te deixam respirar? As crianças estão cada vez mais violentas, menos inocentes, mais mini-adultos. Elas socam a tua cabeça até você dar um beliscão nelas e abrirem o bocão e o pai nunca mais te chama pra animar nada.
Engraçado, usando esse trocadilho infame, mas meu espetáculo usa do chamado humor inocente dos Trapalhões e fico admirado com a reação das pessoas. Se estivesse na minha platéia, eu certamente seria o chato que fica de braços cruzados querendo entender o porquê de tanta risada.
Queria poder me desprender de certas malícias que deduz o final de uma piada ou mesmo fingir que não sabe. Tenho saudade de ir ao circo e comprar aqueles palhaços que saem de dentro de um cone pra guardar como recordação. Talvez seja isso, hoje vou procurar um picadeiro, comprar um saco de pipoca e esperar o momento do palhaço entrar em cena.

Despedida

Na mesa do canto, sentada ao lado do bar ela descansou o corpo exausto, cerrou os olhos e com um sorriso sereno ficou ali até se darem conta de que tinha partido.
Acordava pontualmente às sete e trinta da manhã todos os dias. As sandálias de tecido ficavam embaixo da cama, do lado direito, onde sempre dormiu, próximo à janela.
Enquanto descia as escadas ouvia o latido do cachorro, um basset branco que já a acompanhava há mais de uma década. Os latidos se tornaram fracos e o olhar ficou perdido com o tempo. Enquanto a procurava pelo cheiro, ela afagava sua cabeça com as pontas dos dedos.
O casamento durou cinqüenta anos. O marido era oficial da marinha e se conheceram no interior de São Paulo, durante a temporada do seu grupo de ballet naquela cidade. Até que sua transferência fosse definida para o Rio de Janeiro, trocaram cartas apaixonadas por longos dois anos.
Costumavam passar as tardes de sábado passeando ao redor da lagoa Rodrigo de Freitas e emendavam com uma paradinha na Confeitaria Colombo para degustar um petit four. Demorou até que seu pai permitisse que fossem sozinhos ao Cine Odeon, antes só com a companhia da irmã mais nova de treze anos.
Depois do casamento as sapatilhas foram penduradas. Cinco meses de casada e já esperava o primeiro dos três filhos homens que tivera. A ausência do marido fora sentida, inclusive, na hora do primeiro parto por conta das viagens que duravam meses.
A solidão sempre acompanhou sua vida quando ia sozinha para o quarto depois de colocar seus filhos para dormir. Isso durou até a aposentadoria dele. Até então ela cuidava de tudo, da casa, da escola das crianças, do encanamento estourado e das negociações do preço de carne no mercado.
Todo último sábado do mês ela deixava os meninos com sua mãe e dizia ir à igreja para a reunião mensal da paróquia. Pegava a lotação e ia ao centro da cidade assistir ao corpo de ballet no Teatro Municipal. Os olhos marejavam e as mãos suavam, enquanto as cadeiras eram ocupadas. Ela sentava na terceira fileira, cadeira número 8. As lágrimas caíam sem seu controle, assim que as luzes se apagavam após o soar do terceiro sinal. Acabava o espetáculo e ela ficara ali por alguns minutos, em êxtase.
Após a reserva do marido, seus passeios de fim do mês acabaram e seu segredo ficaria guardado, as únicas provas estariam restritas a uma caixa de sapatos dentro do armário com todos os canhotos dos ingressos. Viveu para atender aos caprichos que a velhice impusera àquele homem alto, cheio de manias e que encarava suas rotina com rigor militar.
Acordava antes dele, fazia o café, preparava o almoço e no final da tarde colocavam as cadeiras de madeira na porta para observar o movimento da rua antes de assistir ao jornal da noite e deitarem às 22 horas, como de costume. E foi num final de tarde, com o crepúsculo no céu daquele outono, depois que voltara da cozinha com a xícara de café que ela encontrou seu amor que a acompanhou por toda a vida dormindo profundamente com os pés erguidos na cadeira da frente. Seu sorriso foi embora com aquela despedida.
Os filhos, já todos casados, tentaram convencê-la a ir morar com um deles, mas ela sempre independente, preferiu dividir com seu cão de estimação a casa grande no bairro de Santa Tereza. Os netos a visitavam aos domingos junto com os pais, mas assim que se tornaram adolescentes a freqüência diminuía a cada mês. Ao final somente Fábio, o filho mais novo almoçava com ela as terças e quintas por conta da proximidade com seu trabalho. Os outros dias da semana sentava sozinha, sempre com a postura ereta na mesa do canto em um restaurante simples perto de uma pracinha no final da rua.
O convite veio por telefone, a neta mais nova ia fazer apresentação de fim de ano na escolinha. Ela, vaidosa, arrumou-se cedo e sentou-se no banco de trás do carro do filho do meio, enquanto a nora ia na frente falando ao telefone móvel e mal a cumprimentou, como de costume.
Em meio a pais disputando o melhor espaço para as fotos, ela ficou no canto em pé e viu naquela criança ainda desajeitada um retrato de si mesma. A menina compenetrada mal olhava para a platéia e exercia com extrema competência os passos e a coreografia daquela atração. Ao final recebeu um beijo e um afago da neta que antes de falar com os pais veio correndo ao encontro da avó saber sua opinião.
Voltou já à noitinha e em vão após o asseio noturno foi para a cama. Perdeu o sono, acendeu a luz do quarto e com dificuldade tirou uma caixa de papelão encapada com papéis floridos. Lá, fotos amareladas, laçarotes, os canhotos dos ingressos e a sapatilha gasta enrolada com a fita de cetim branca. Durante uma semana ela desfez-se de móveis, roupas e contratou uma pessoa para limpar a prataria e encerar o piso da casa.
No sábado pela manhã, deu um banho demorado no cão, o secou com secador e permitiu que ele ficasse no seu quarto até o começo da noite. Tomou um banho demorado, penteou com esmero os cabelos finos e prendeu com um dos laços fazendo um coque atrás da nuca. Colocou meia-calça cor da pele, anágua e separou o vestido preto com brilho que usou no casamento de um dos filhos. Um pouco de colônia nos pulsos e no pescoço, pó de arroz no rosto, blush nas bochechas e um batom discreto nos lábios.
Deixou o cão na vizinha e deu um beijo demorado na sua cabeça, o táxi a esperava na porta.
Ouvia a música alta na esquina antes de chegar aquela casa com escadaria íngreme. Assim que alcançou o último degrau avistou o piso quadriculado em preto e branco, a orquestra ao fundo, corpos suados e saias rodadas com o movimento dos ritmos. Respirou fundo. Os olhos brilharam e foi em direção à pista com um sorriso que ensaiava sair no canto da boca há exatos 50 anos.

Cartão Postal

Como típico morador já cúmplice da loucura institucional das metrópoles, às vezes paro pra pensar e entendo perfeitamente a aversão de certas pessoas com manifestações culturais distantes do nosso dia-a-dia. Isso inclui, por exemplo, assistir mais um daqueles filmes que retratam cenários e personagens com sotaques caipiras ou nordestinos. É o que chamam "Brasil pobre", o retrato de um país que incomoda àqueles que não se identificam com o que está sendo mostrado nessas histórias.
Entender claro, está longe de aceitar o descaso com esse tipo de comportamento. Renegar qualquer manifestação cultural por falta de identificação, é deixar de lado o prazer em conhecer e desvendar nossas origens.
Nas últimas semanas tenho tido o prazer em levar um projeto pra dentro do sertão nordestino, "Pra lá de onde o vento faz a curva". Parece que entro nas lentes de uma câmera do Glauber Rocha, me sinto um personagem de Ariano Suassuna, ou às vezes, acho que estou procurando o pai do Josué do filme Central do Brasil. Conhecer as capitais nordestinas com cenários típicos de cartão postal com fotos de coqueiros, mar de água cristalina e dunas desérticas nem de longe mostra o que o nordeste tem de melhor: o nordestino.
O choque cultural é significativo. Ao mesmo tempo em que assusta, fascina. Essa denominação de pobre, certamente deve ser indicada pra quem a criou. Claro que quem está acostumado com a comodidade dos serviços de uma cidade como São Paulo, deve no mínimo se encher de paciência e ir despido de qualquer frescura. Há muito tempo, encenei o espetáculo Morte e Vida Severina. Hoje vejo que tolice foi aquela minha composição, conversar com o porteiro do meu prédio certamente não serviu patavina para entender aquele retirante que fiz nos palcos.
Aqui, "Da Bahia pra cima é tudo baiano". Como 90% da população dessa cidade, não nasci em SP e sempre me incomodou esse preconceito e ignorância de muita gente com mais esse ditado, no mínimo, segregador. Ninguém sai da sua terra porque quer. Essa massa de migrantes nordestinos que deixou o sertão em busca de melhores oportunidades na cidade, aumentou o número de miseráveis nos centros urbanos, que os trata como ninguém.
Já disse que não me proponho a fazer um texto jornalístico, gosto de dar um parecer superficial sobre algum assunto. Tenho enfrentado uma rotina intermodal, que vai desde os meios de transportes "civilizados" até charrete de jegue. E isso só me enriqueceu como artista. Me sinto um representante da Comedia Dell´arte tupiniquim do século XX, um artista mambembe fajuto.
Escreveria páginas sobre cada personagem que tenho encontrado lá.
Mas isso eu deixo guardado no meu baú. Tem uma música da Adriana Calcanhoto que acho a cara dessa jornada: Esquadros. Aquelas senhorinhas com batas floridas, sotaque carregado, ora discutindo a filha "pra frente" adolescente, ora jogando cartas nas cadeiras devidamente alinhadas na porta da casa ou alimentando uma fofoquinha sadia sobre a vizinha, cachorro, papagaio, etc. Isso claro antes da novela das 9, ex-8 horas, começar.
A igreja imponente no centro da praça principal, os senhores com sandálias de dedo e chapéu de couro tomando pinga no bar da rodoviária. Aquelas pessoas simples que ao perguntar o nome, informam o sobrenome de supetão, definitivamente me enriquecem como ser humano. Esse, típico de metrópole que anda desconfiado de todos que passam ao seu lado. Que a cada dia se distancia das ruas com medo de seus pares, tem a chance neste trabalho de marcar um encontro por meio da arte com esse povo.Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodóvar, cores de Frida Kalo, cores...

Todo artista deve ir aonde o povo está!

Meu ciclo de amizade está envolto por muitas pessoas que mantém uma relação direta ou indireta com a arte. Embora, claro, tenho amigos que trabalham em outras áreas, pessoas que involuntariamente ainda tem um conceito glamourizado da nossa profissão. De forma alguma eu os culpo, pelo contrário, entendo perfeitamente esse preconceito.
Não sou jornalista e nem tenho a intenção de dar esse caráter ao texto. Não farei uma pesquisa aprofundada no porquê desse conceito, mas quero discutir um pouco a minha opinião a respeito.
Já mencionei certa vez que essa coluna é absolutamente terapêutica e C-L-A-R-O que não ia perder a oportunidade de usar esse espaço e, esse tema, pra extravasar esse enchimento de saco que é pra mim e, acredito, pra outros colegas essa cobrança em cima do que é SER artista no nosso país.
Semanas atrás tive a grata surpresa de ver a consagração internacional de uma atriz que está longe de sair em revistas, com a boca repuxada e o cabelo com aplique, parecendo uma boneca velha abrindo as portas da sua casa de praia. Consagrar a atriz Sandra Coverloni num festival como o de Cannes, é premiar uma artista que nunca atraiu mídia por escândalos com marido ou por ser protagonista de novela das oito. Grandes artistas não se fazem por esse meio, pelo menos eu acredito. Algumas juntam as duas coisas, mas quase sempre ouvimos aquela frase: "Que pena tão talentosa e se acaba em drogas, rouba lingerie, briga com o diretor".
Nunca esqueci de uma entrevista da Fernanda Montenegro, em que ela, perguntada qual o conselho pra quem estava começando disse: "Desista". Eu, em começo de carreira, fiquei muito mal com aquilo, cheguei até a ficar com raiva dela. Olha que bobagem! Acreditava que alguém de tamanha representatividade e destaque, tinha por obrigação incentivar de outra forma quem estava começando. Mal sabia o que me aguardava. Revistas que vendem imagens de uma parcela mínima da classe, que vive nesse universo cheio de glamour, novelas recheadas de histórias que hipnotizam donas de casa cansadas da sua vida repetitiva.
Diversos outros fatores contribuem pra criar essa fantasia em que resolve se aventurar nessa profissão. O dia-a-dia é bem diferente. Quando você se vê diante de um batalhão de pessoas disputando um papel no comercial de loja popular, com uma plaquinha constrangedora com seu nome, idade e altura (ai) depois de puxar muito o saco da moça da agência pra te chamar e de ficar horas esperando pra agüentar um diretor mal educado, um maquiador estressado e uma produtorazinha (isso mesmo, bem no diminutivo) você vê a relação cruel que um ator pode ter como um produto. No entanto, precisamos pagar contas. Os programas dominicais são deprimentes, mas tenho que confessar que até gosto do quadro Arquivo Confidencial do Faustão. Quem nunca se imaginou revendo sua carreira no lugar daquelas pessoas? Inclusive essa é uma frase clássica desses amigos que citei no começo da coluna: "Um dia vou falar de você no Faustão".
Já entoei mantra em um idioma que não existe, me vesti de palhaço com uma roupa que certamente me deixou estéril. Já fui o praga da Xuxa (eu vou me arrepender disso), marido traído em comercial de cerveja e gerente de banco vendendo seguro fiança. Isso pra não falar de outras coisas. Mas não quero tornar isso depressivo.
Calma, só coloquei o lado ruim. E antes que me acusem de frustrado, digo que a pressão da família, das pessoas que me esperam ver na novela das oito não é suficiente pra estragar o que a arte significa pra mim, despertar a fantasia de uma criança, transformar a vida de alguém que se dispôs a sair de casa e embarcar na minha viagem, nem que seja por algumas horas, ter o privilégio de viver nessa vida tantas outras e sobretudo pisar num palco está acima de tudo isso. Definitivamente, não tem preço.
Ver uma atriz como a Sandra ser premiada, é premiar todos esses artistas que batalham pra levar um pouco de arte a todos ou a poucos que conseguimos atingir. E antes que isso vire uma extensão de comercial de cartão de crédito, eu me despeço. E viva a arte. Até a próxima.

Tudo Sobre Minha Mãe

Minha mãe é parente do Pedro Almodóvar
.Já mencionei uma vez que não tenho pretensão alguma em tecer críticas a espetáculos em cartaz na cidade, deixo isso para os meus colegas. Como minha coluna está em "Artes e Teatro" e não em "Comportamento" aproveito para usar um assunto que leve a outro. Mato dois coelhos.
Recentemente vi as duas versões de Senhora dos Afogados que está em cartaz em São Paulo. Considerações sobre elas à parte, a peça é baseada na obra Electra Enlutada do dramaturgo norte-americano, Eugene O´Neill. Moema, personagem principal da peça de Nelson Rodrigues, deseja um pai vivo e odeia sua mãe que é sua principal vítima.Assustadoramente virou assunto corriqueiro nos noticiários, manchetes de filhos que matam pais e vice-versa.
Estou longe de querer discutir psicologicamente os motivos que levam um filho a odiar sua mãe, afinal nem tenho cacife pra isso. Com a proximidade do Dia das Mães acabei refletindo bastante sobre esse assunto. Aliás, muitos motivos me levaram a querer falar dessa figura que decididamente com diferenças ou semelhanças é tão importante em nossas vidas.
Ultimamente revisitei a obra de Almodóvar e não poderia deixar de lado o filme que intitula essa coluna. Uma obra-prima recheada de personagens que trazem algum significado novo, uma reflexão ou dão força para um enredo em que o drama de uma mãe que sofre com a perda de um filho comove, apesar da sinopse inusitada criada por esse mestre. Inclusive esse é um cara que entende e colore como ninguém as mulheres, principalmente as mães. As mulheres criadas por ele constroem um mundo à parte, a presença masculina não faz falta nenhuma. Mães que rendem filmes alegres, divertidos (mesmo sendo mais melodramáticos) e coloridos. A minha, com certeza, saiu de um filme dele. Ainda é cedo, estou procurando provas, mas um dia divulgo na imprensa que existe parente direto de Pedro Almodóvar no Brasil: minha mãe.
Peço licença aos senhores, mas precisava falar dela aqui. Embora esse Gonzalez seja espanhol, sempre tive sérias dúvidas se não era mexicano, mas vendo os filmes dele tive a certeza que essa ligação existe. Aliás ontem minha mãe me ligou chorando porque em uma das minhas colunas eu descrevia um sonho que tinha com meu enterro. Mandou-me imediatamente arrumar minhas malas e voltar pra casa, porque onde já se via isso, ficar falando da minha morte. Eu devia estar aprontando alguma. Aliás, só as ligações dela pra mim nesses oito anos que saí de casa renderiam filmes com várias continuações, tipo Guerra nas Estrelas e seriam campeões de bilheteria.
Quando não me conta em detalhes o que se passa com meus irmãos, ela me liga para:
• Dizer que eu não a amo mais porque estou há quase uma semana sem falar com ela (eu ligo todo sábado, mas ela não agüenta e me liga no meio da semana);
• Liga chorando em datas comemorativas ou aos domingos dizendo que lá em casa tem tanta comida e eu aqui em São Paulo comendo macarrão todo dia.
• Me conta suas novas amizades na academia, pois agora ela divide as atenções com o pessoal da hidro e o pessoal da musculação.
Claro que, depois de ler essa coluna ela vai dizer que eu to mangando dela e vai ficar sem falar comigo - deixa eu ver... umas duas horas -, mas minha mãe é aquela que não é perfeita mas pra mim é, que me ama sem pedir nada em troca, que me acha o mais bonito de todos, o melhor ator de todos, o melhor colunista. Minha mãe sempre usou a síndrome de Pollyana, pois, enquanto eu era adolescente, ficava puto porque não tinha crescido mais e ela falava "o Nelson Ned é menor que você!" (isso me deixava tão bem...). Nesses anos todos, ela me recebe no aeroporto, mas nunca se despede.
Eu chego de viagem e no meio da minha mala sempre tem pasta de dente, sabonete e cotonete escondido no meio das minhas roupas - eu tenho um estoque. Ela guarda roupas da minha irmã quando era criancinha, as medalhas do meu irmão e os meus desenhos que eu insistia em dizer que era ela aquele monte de rabiscos coloridos.
Nunca fui um filho perfeito, tô longe de ser. Deveria ter um ranking das frases que as mães mais nos falam em vida. Uma delas seria "quando você não me tiver por perto vai sentir minha falta". Batata Nelson! Quando está frio, quando estou doente, quando me sinto feio, sozinho ou mesmo sem motivo algum eu sinto falta dela. Quando me despeço das ligações ela diz "já vai desligar? Mas eu que liguei, eu que tô pagando, pode falar comigo!". E pra terminar bem mexicano e melodramático nada mais original do que declarar aqui meu amor por ela. Agora depois dessa coluna ir ao ar, quero saber que filme isso vai render.

E a vida imita a arte

Hoje decidi matar você!
A noite tinha sido longa, após o jantar com a mãe recolheu-se no seu quarto e como de costume antes de deitar asseou-se, tirou a toca plástica verde e sentada em frente à penteadeira jogou os cabelos negros e cumpridos pra frente e escovou-os quinze vezes. Já vestindo camisola passou um pouco de colônia infantil no pescoço e nos punhos, foi deitar e ficou olhando o rádio-relógio no criado-mundo esperando o momento em que os números marcassem zero hora.
Pronto! Agora sim, feliz aniversário! Espero que goste do presente.
O sol mal despontava pela janela e ela observava com paciência os raios tomarem conta do quarto aos poucos. Levantou-se delicadamente e foi até a primeira porta do guarda-roupa e tirou uma caixa de sapatos fechada por uma fita de cetim amarela.
Tenho que apagar todos os vestígios, quem disse que não existe crime perfeito?
Seis anos marcava o tempo que já durava essa relação. Conheceram-se ainda nos tempos do colégio, ele sempre foi bonito, popular, desejado. Ela: poucas amigas, aluna razoável, óculos de aros grandes, chegou a usar colete cervical para consertar a coluna. Era dispensada por essa razão das aulas de Educação Física, sozinha na arquibancada ficava observando ele jogar futebol, enquanto escrevia na agenda com canetas coloridas seus nomes em meio a recortes de revistas, desenhos de corações, clipes e fotos do grupo New Kids on the Block. Achava ele parecido com o vocalista e nutria por ele a paixão platônica pelo ídolo.
Vou perder minha hora no salão!
Sete anos marcava o tempo em que eles não se viam. Ela: formada em Odontologia, corpo curvilíneo, os traços exóticos do seu rosto acentuaram-se com o passar dos anos. Tinha pele alva e nariz fino. Tornara-se uma mulher muito bonita. Ele: Largou a faculdade de Ciências Contábeis ainda no primeiro ano, foi trabalhar na loja de materiais de construção do pai e seu corpo foi ganhando peso e a sua aparência nem de longe lembrava os tempos do Colégio São Luís.

aficionada por cinema adorava filmes franceses, mas tinha uma queda pelos românticos americanos. Guardava ainda a fita de Ghost e achava lindo o choro em que Demi Moore deixava cair apenas uma gota de lágrima enquanto olhava o fantasma do marido. Chegou a ensaiar várias vezes na frente do espelho, mas as lágrimas sempre caiam em abundância no final de cada noite em que sofria no silêncio do quarto. Depois daquele reencontro e do começo do namoro tudo mudara na sua rotina. Afastou-se das amigas, deixou de ir ao cinema (ele dizia que era um bando de bobagem), passou a mudar seu estilo de se vestir, abandonou a vontade de mudar a cor dos cabelos e ficava em casa nos fins de semana ou no máximo ia passar alguns dias na casa de praia dos sogros.
Durante os últimos dois anos passou a planejar com esmero cada detalhe do seu casamento, sempre o consultando e aguardando a sua aprovação para cada decisão. Um telefonema no meio da madrugada, três dias antes do seu aniversário, três dias antes de completar 30 anos fez ruir sonhos e a fez recordar das brigas intermináveis, do ciúme possessivo dele, das agressões verbais e das noites de sábado em que ficava esperando em vão por ele. Ficou olhando de longe, por de trás do carro estacionado na esquina. A outra: cabelos tingidos, raiz preta, blusa decotada, saia curta, sandália de dedo.
Sutian vermelho com a alça aparecendo, ridícula!
Voltou do salão com os cabelos curtos, fez questão dela mesma ir ao banheiro e após ler atentamente as instruções da caixa, colocou luvas e pintou de vermelho intenso ao som de The Blower´s Daughter, trilha de Closer outro filme dos seus preferidos. Foi até o banheiro, olhou-se feliz no espelho e vestiu a roupa preta deixada em cima da cama. Já passara das 17 horas, quando pegou a caixa com todas as recordações daqueles seis anos e foi até o quintal. Jogou álcool e incinerou. Apagou de vez tudo que lembrasse aquele homem. Ligou o computador, criou uma página no orkut e escreveu no MSN: "É preciso dar cor e forma às coisas, porque desnudas elas apavoram" e como status, Volto Logo. Passeava ao final da tarde na Avenida Paulista em meio à multidão com os cabelos vermelhos intenso. Entrou em várias lojas e livrarias e fez questão de parar em frente a um grupo de executivos que saiam do emprego e tirou com delicadeza os óculos escuros.
I can´t take my eyes off of you. ´Til I find somebody new!

Eu preciso dizer que te amo...

O tempo mudou de repente. A casa era abafada, quente e ela sentiu necessidade de sair logo. Enquanto caminhava em direēćo a casa dele, suas mćos ficavam cada vez mais śmidas, o coraēćo batia em ritmo acelerado e o peito cada vez mais sem ar. Carros e pessoas passavam ao seu lado e tudo parecia mover-se em câmera lenta.
Como eu começo?
Esperou no hall, ele tinha dado autorização para esperá-lo enquanto não chegava do trabalho. Ficou ali, por quase uma hora, olhava a mesa de mosaicos e no momento em que ele entrou já sabia exatamente quantos pedaços amarelos havia naquele desenho. Ela o chamou por telefone, não agüentava mais controlar suas emoções, não era mulher para um caso passageiro, queria deixar isso bem claro. Quase um mes sem vê-lo, evitava ir aos lugares que sabia que poderia encontrá-lo, fugia dos encontros com os amigos em comum. Mas seu rosto, sua boca, seu cheiro, seus olhos verdes, tudo estava gravado em sua memória.
Ele ta diferente...
Era baixinha, difícil de ser notada, a não ser pela sua capacidade de chamar atenção ficando amiga de todo mundo que cruzasse sua frente. Suas atitudes, sensatas ou insensatas. Ela culpava o seu signo.
Aquariana! Ascendente em Escorpião
Tinha acordado cedo e foi ao salão cortar as pontas duplas (quase quatro dedos, até chorou!) Fez escova, se pintou e só por precaução colocou uma calcinha sexy.
Sei que vai me receber blasé como sempre seu mimadinho, mas depois do que eu ensaiei para te falar, você será apenas um Zé Ninguém, jogado no meio desses teus cachorros fedorentos, remoendo suas lembranças com aquela professorinha de merda e eu vou voltar pra casa, linda, perfumada e vou escolher um cara qualquer da minha agenda e vou dar pra ele, você vai ver, você vai ver!
- Oi minha linda. Quanto tempo! Cortou o cabelo?
- ...Não! Impressão sua!- Que saudade...
- ...É, eu também!
Idiota, não me abraçaa assim. Me trata mal...
Subiram. Ele serviu cerveja gelada. Ela ensaiou recusar. Acabou cedendo. Mandou ela escolher um CD e ela optou pela rįdio. Na parede, fotos dele e da ex-namorada, tempos diferentes, os cortes de cabelo entregavam o tempo daquela relação. Viagens internacionais, souvenirs, lembranças por toda parte.
Mal conheço a Argentina... E esse monte de almofadas no chão, coleção de DVDs, CDs por toda parte? Aqui é um matadouro nćo é? Desgraçado! Aposto que começa a comer essas vagabundas aqui, depois leva para o quarto, foi assim comigo...
- Diga!
- O qué?
- Sei lį... Qualquer coisa...
- Hum... Qualquer coisa... (silêncio)
- Hum... Engraçadinha, você me disse que tinha um "assuntinho" pra falar comigo... Bom, vou tomar banho, quando voltar quero saber de tudo, hein? Você se importa?
- Não, não, imagina.
Assuntinho é? Odeio diminutivos.
A sala tinha um espelho grande. Passeou as mãos pelos CDs e pensou em colocar uma música pra tomar coragem. As músicas sempre a ajudavam. Quando era novinha adorava criar trilhas sonoras pra si, gravava fitas cassetes e escrevia nas etiquetas: MŚSICAS LENTAS, HOUSE, A GATA COMEU INTERNACIONAL...
Sentia o cheiro do xampu descendo o ralo do banheiro.
Me chama pra tomar banho com você! Nćo, sai logo daķ que eu tenho uma verdade pra te falar! A grande verdade que o "assuntinho" é... É que eu te amo seu escroto, galinha, olho pra vocź e meu coração dispara, minhas mãos ficam suadas e de repente o mundo fica mais justo, democrático, conheço a fantasia, o sonho. Adoro seu sorriso sem mostrar os dentes, suas pernas curtas e tua barba roçando meu rosto seu imbecil, filho da mãe. Eu te amo mais do que aquela vadia que já te corneava quando vocês ainda estavam juntos e vinha com papinho pseudomoderno de relacionamento aberto.
O telefone tocou sem parar: o da casa, o celular deixado em cima da mesa, barulhinhos diferentes pra cada chamada. Ela desejou atender o telefonema da ex, e falar "ele não quer mais você, é meu, meu!" Acabou indo em direção ao espelho grande na parede e se olhou. A cerveja subiu rápido, por um momento tudo girou, pegou o celular dele e viu nomes de vįrias mulheres diferentes, todas em diminutivos. Viu o seu e estava escrito: Aninha.
Sentiu-se tão pequena, nada especial, como ele era pra ela. Parecia que as fotos olhavam pra ela e ficou incomodada. Foi até a cozinha, abriu a torneira e jogou įgua no cabelo, ia sair pelos fundos, mas voltou, escreveu um bilhete e deixou em cima da mesa. Levemente, tomando cuidado pra não fazer barulho, foi até a varanda e apoiou os cotovelos no parapeito, debruēou o rosto na palma das mćos. Os cabelos molhados caíram sobre os olhos, e então, olhou o horizonte. Ainda era horário de verão, quase oito horas da noite e ainda era possível ver no céu rajadas de raios de sol parecendo labaredas de fogo. A sensação era de que estava em um quadro, numa pintura. E antes que ele saísse do banho, ela foi embora, olhou o bilhete e certificou-se que estaria visível quando ele procurasse por ela.
Saiu descalça, sem escova no cabelo. Ele ligou para o seu celular, ela não atendeu. Deve ter lido o bilhete, pensou. Foi até a padaria da esquina e comprou um picolé. Passou na frente de um grupo de homens e tirou com todo o prazer a calcinha da bunda, sentiu-se vulgar e também desejada.
Preciso pensar numa música.

Aos meus queridos amigos

Noite passada tive um sonho que acreditem sempre tive vontade de ter: sonhei com meu enterro.
Antes de dormir havia assistido ao último capítulo da minissérie Queridos Amigos da Rede Globo. Fiquei com a imagem daquela despedida na cabeça. Da história e do protagonista, que ao longo dela via a necessidade de se despedir dos amigos depois que soube que sua morte estava próxima. Não eu que eu esteja na mesma situação, Deus me livre, mas assim que acabou o capítulo tive uma vontade absurda de sair ligando pra todos meus amigos. Desejo de ser mais presente, vontade de restabelecer contatos antigos, visitar aqueles distantes ou até mesmo bater na porta deles pra saber como estavam.
Antes mesmo do sonho já havia decidido que o tema da minha próxima coluna seria a amizade. Tão cantada e poetizada, houve os que aconselharam "a guardar um amigo do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a razão dissessem: Não!" E outros ainda na infância cantavam num balão mágico "os amigos do peito".
Engraçado que um personagem ainda da minissérie dizia ser do signo de aquário, assim como eu, falava que era o signo da amizade, do desprendimento, do amor a humanidade. Já comentei uma vez que uso esse espaço como terapia. Melhor forma de fazer auto-análise impossível! Tenho como característica uma necessidade de conhecer gente, de ter sempre pessoas do meu lado, não fico satisfeito no final do dia se não tiver conhecido uma pessoa diferente. Tenho um amigo que diz que se bobear se um dia for assaltado, faço amizade até com o ladrão.
Gosto de sair e misturar amigos de diferentes campos da minha vida. Às vezes coloco gente que não tem nada a ver um com o outro, fico sarcasticamente os observando e vendo surgir coincidências e assuntos em comum, mesmo que seja o gosto por uma bobagem qualquer. Quero meio que provar que pra se conquistar a amizade de alguém é preciso estar disposto em conhecer, em desvendar pessoas que não precisam ser uma cópia sua pra conquistar teu afeto, tua admiração.
Se hoje em dia as ferramentas da Internet como o orkut, e-mails e o MSN conseguem agrupar amigos que moram perto, longe ou até mesmo fora do país, acredito que assim como aproximam, também criam um distanciamento imposto pela facilidade e praticidade que este meio dispõe. Desejar feliz aniversário, por exemplo, ficou restrito a frases abreviadas nessas páginas pessoais.
Procuro ter sempre meus amigos por perto, não meço esforços em compartilhar de suas companhias. Claro que infelizmente, o preço em ter tantos acaba me fazendo sentir-me culpado em não poder ser presente com vários, que o trilhar da vida acabou me afastando. São Paulo é uma cidade peculiar por vários motivos, mas é impressionante a quantidade de pessoas que abandonaram suas cidades e famílias e vieram se aventurar aqui sozinhas. Procurando apartamento pra minha mudança fiquei surpreso com o fato de que a maioria dos imóveis é de apenas um quarto. Aqui até mesmo nas construções a solidão impõe sua presença. Estar sozinho aumenta em mim a necessidade de construir amizades.
Acabei nem falando do sonho. Não foi pesadelo não, acordei bem! Sensação... Bem não digo plena, mas leve. Estavam todos lá, engraçado como minha visão percorria todos aqueles rostos, alguns perdidos pelo tempo, amigos que ainda tinham a feição da infância. Até um amigo de escola que havia sofrido por ter sido separado pela classe B, enquanto ele tinha ido para a C estava ali.
Hoje acordei cedo, recordei do sonho e resolvi escrever e prestar uma singela homenagem a todos que fazem ou já fizeram parte da minha vida, que estão sempre prontos para estender um ombro amigo, pra me ouvir sem pedir nada em troca. Porque embora conheça muita gente, sei reconhecer quem são esses.
Como mencionei, tantos poetas e compositores já escreveram coisas lindas sobre a amizade. Não serei prepotente e tentarei criar uma frase pra sair em "Frases da semana" da revista Veja, melhor que isso prefiro sair agora e aproveitar o final da tarde ao lado deles. Faça o mesmo!
http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?/ARTES_E_TEATRO/SAO_PAULO/&a=1&ID=9&cd_news=36969&cd_city=1

Tempos de Mudança

Em menos de um ano tenho novamente um encontro marcado com caixas de papelão, plásticos bolhas e uma bagunça generalizada que acompanha sempre quem tem que deslocar todas as coisas que você conseguiu juntar até então na sua "vidinha" de um espaço para outro.
Agora que tenho uma espécie de diário virtual, posso me dar o prazer de divagar minhas idéias, relatar minha rotina e relacionar com fatos que possam interessar ou fazer com quem os leitores pensem a respeito. Assuntos que estão assim tão pertinho da gente e por distração ou falta de atenção deixamos de analisar um pouquinho mais a fundo.
Tenho o costume de juntar acontecimentos, do passado, de hoje, de agora a pouco, e gosto de criar associações entre eles. Pra mim nenhum assunto é raso. Enquanto abria a primeira gaveta e me preparava para a difícil missão de escolher o que ia, e o que não ia me acompanhar na próxima casa, eu achei uma pasta com diversos programas de peças de teatro (eu guardo todos, inclusive os canhotos dos ingressos!). Entre eles estava o da peça "Norma". Era uma peça linda, poética e me marcou muito, entre tantos motivos que me fizeram gostar dela, lembro muito de uma frase que a personagem da Ana Lucia Torre falava, era mais ou menos, assim: - A minha vida inteira cabe dentro de caixas e caixinhas.
Muitos usam como terapia arrumar uma gaveta ou o seu guarda-roupa. As mulheres quando resolvem tirar o que tem dentro da bolsa então... Independente da discussão de ser ou não materialista, ser agarrado a bens materiais, abandonar algo que você guarda a um certo tempo passa a ser um símbolo de desprendimento. Tenho manias absurdas (tudo bem que depois que um amigo me confessou que só consegue sair do banheiro depois de contar todos os azulejos, me acho tão normal ....Não que ele não seja!) e uma delas é guardar papéis e roupas que por algum motivo marcou um certo momento da minha vida.
Não sei vocês, mas quando estou numa conversa no telefone, aquelas intermináveis, não consigo ver um papelzinho do lado com uma caneta e não começar a fazer desenhos ou rabiscos esquisitos. Adoro! Passa o tempo, enfim, tenho um monte desses guardados, todos com um nome embaixo da pessoa que conversei. Roupa então, não consigo me separar de várias, cada uma que eu guardo, eu penso: nem se eu quisesse dar pra alguém iam aceitar! Brincadeira, tanta gente sem ter o que vestir... Ah não, sem dramas. Não é essa a questão! O fato é que cada mudança seja ela física como a que estou descrevendo, ou emocional (eu falei que gosto de criar associações) deixam marcas, é um sinal de abandono.
Essa mudança específica pra mim representa hoje algo além de um simples deslocamento. Quis criar uma espécie de ritual. A frase de Norma me impulsionou um pouco nisso. Claro, que outros acontecimentos pessoais também, mas pensar que tudo o que a gente viveu fique resumido a objetos materiais guardados numa caixa de papelão, realmente é bem desesperador. Quero deixar minha passagem registrada de outra forma, com a minha arte, por exemplo.
Senti-me um pouco fútil enquanto via quantas coisas desnecessárias eu guardava. Mas parei de me julgar porque aquilo representava algo pra mim, um símbolo de uma época, a lembrança de alguém especial, um tempo que eu queria ter registrado comigo. Eu sou aquariano, nostálgico, eu assumo! Tenho medo dos meus textos ficarem datados, cito muito coisas antigas, mas não tem como não ficar melancólico vendo fotos impressas. Hoje é tudo tão imediatista, as máquinas digitais embora facilitem e antecipem o tempo de angústia em saber se você ficou bonito ou não, eu adorava a ansiedade na espera pela revelação. Tenho uma caixa cheia delas, ficam sempre guardadinhas, diferentes das que estão no meu computador que volta e meia eu olho. Nas mudanças acabo sempre percorro minha vida inteira olhando as fotos uma por uma.
O cesto de lixo ia ficando cada vez mais cheio, as caixas com a mudança do meu quarto nem tanto. Vida nova, eu pensei. Roupas antigas ficaram pra trás, caixas de sapato com fotos e negativos foram comigo, os bilhetinhos com desenhos de telefonemas, cartas e qualquer papel com aparência um pouco amarelada ficaram. Peguei um bloco novo e separei pra colocar na mesinha que ficará o telefone. Todo em branco.

Prosa ou Poesia

O dia amanheceu frio. Não agüento mais essa variação de temperatura, nessas horas eu lembro do efeito estufa, dos congressos sobre aquecimento global, do Al Gore. Domingo, no verão e 17 graus lá fora. O que um paulistano faz em um dia assim? Talvez pelas últimas conversas com amigos e por acontecimentos recentes tenho sentido mais vontade de fugir do óbvio ou de optar por programas diferentes, mesmo que sejam simples.
Confesso que uma ligação e uma frase solta de uma amiga nesse dia me fez pensar assim:- Sai assim mesmo! Mesmo sozinho olha ao redor e veja poesia, na chuva, no frio... A frase é bem "bicho-grilo". Como sou ator e estou acostumado a ouvir frases assim... Enfim, dizem que o artista tem a alma mais sensível, tem um olhar mais apurado sobre a vida.
Resolvi testar isso em mim. Ultimamente ando meio descontente, sei lá se é por conta da loucura da Paulicéia Desvairada, dos noticiários sangrentos ou da minha última desilusão amorosa, o fato é que eu estava ficando frio pra certas coisas. E procurar encontrar poesia na minha vida, no meu cotidiano, me fez lembrar de tempos remotos em que parecia que essa procura era mais fácil. Coloquei uma roupa confortável e fiquei na varanda ensaiando sair ou tomando coragem pra enfrentar a chuva. Fiquei olhando pela janela e vi um grupo de crianças tomando banho de chuva, jogando bola, fiquei pensando quanto tempo não fazia isso.
A infância é um período lindo da vida que serve bem como referência nessa procura. Claro que vendo hoje, adulto cheio de preocupações, quando era criança achava toda aquela liberdade, aqueles brinquedos e brincadeiras um saco, queria era ser adulto, alto. Ter um irmão mais velho ajudava um pouco, afinal achava a vida dele bem mais interessante que a minha. Hoje não tem como olhar uma criança e não ver essa poesia naquele andar em que a cabeça pesa e chega na frente antes do corpo, naquela risada gostosa ou naquelas frases absurdas em que você sempre solta uma: nossa como ela é inteligente! Peguei meu guarda-chuva e fui para o ponto.
Coloquei na minha cabeça que naquele dia cinzento eu ia encontrar poesia, ainda pensei em ficar em casa, enrolado num edredom, mas lembrei que estava sem TV à cabo e não tinha passado na locadora, em casa vendo TV aberta com aqueles programas que estavam à minha disposição não! O ônibus chegou e fui para a última poltrona, mais alta, com uma visão melhor, fiquei ali olhando a cidade daquela janela, não sabia nem pra onde tava indo, mas não sei porque tava animado, tinha deixado o celular em casa, não queria nada nem ninguém atrapalhando minha busca.
Não liguei para as buzinas, para o trânsito lento, para os adolescentes que falavam alto suas histórias chatíssimas nas poltronas da frente. De repente parecia que estava tudo em absoluto silêncio, só ouvia os pingos batendo no teto e nas vidraças. Guarda-chuvas de todas as cores, casais dividindo casacos cobrindo a cabeça, e os pingos cada vez mais fortes, trovões ameaçadores lá fora e eu dentro daquele ônibus. Passava pela Paulista.
Quando era criança, era aficionado por novelas, achava o máximo um personagem ter uma trilha sonora, fechava a porta de casa e já tocava a música, acabava um namoro e ia para praia olhar o mar, com a música ao fundo, e todos os telespectadores iam para as lojas comprar o LP, os Internacionais eram os meus preferidos.
Se fosse pra lembrar de uma música que fosse "Sampa", principalmente o trecho: Da dura poesia concreta de tuas esquinas. Num impulso desci e me achei o galãzinho da novela das sete, (sete, oito não!) na Paulista andando na chuva, deixei meu guarda-chuva enrolado, dentro da sacola com o livro que não sei por que levei, lembrei das crianças, da música do Caetano, da frase da minha amiga e fui andando, na falta de uma praia pra olhar o mar revolto, a Paulista servia, com as cores do guarda-chuvas preenchendo aquele cenário escuro, prosa ou poesia voltei pra casa, encharcado, mas com a sensação de que tinha cumprido minha busca. Ainda que não pare de tossir e de assoar meu nariz de 15 em 15 minutos, foi um domingo poético.

Trintão, solteiro, procura

Há pouco tempo um grande amigo fez aniversário e querendo agradá-lo eu escrevi um depoimento pra ele num site de relacionamentos. Ok, na verdade eu queria sacaneá-lo afinal ele chegara aos trinta antes de mim.
Balzac já enaltecia as mulheres que atingiam essa etapa da vida e por causa dele um novo adjetivo surgiu: "Balzaquianas". Umas temem, outras adoram, principalmente aquelas que se julgam remanescentes do seriado "Sex And The City". Pra minha tia, dona de expressões únicas essas são, segundo ela, "as que deram o primeiro tiro na macaca".
Esse mês é a minha vez de ser sacaneado, afinal eu vou entrar na temível casa dos trinta e em pleno inferno astral e já naquele depoimento eu parei pra pensar qual seria o adjetivo para os homens que entram nessa idade que você nem é mais tão novo e nem é tão velho.
Algum autor famoso já escreveu sobre os homens dessa faixa etária? Dei uma pesquisada e não encontrei nada...Confesso que essa idade dá um certo temor, afinal é um pulo para os quarenta, a tal IDADE DO LOBO, e se antes eu não sentia diferença no meu corpo, achava um pouco de fantasia nisso tudo, essa transformação ou um aquecimento para tal dá um frio... Enfim, não quero fazer disso um desabafo cheio de lamúrias, se minha mãe ler isso já vai me encher de sermão: - E as crianças que passam fome na África? E as mulheres que sofrem no Afeganistão? E a sua irmã que já tem 31 e não casou?
Pior do que chegar nessa idade é passar por situações que entregam claramente que o tempo está passando pra você. Escolha uma balada que toque todo tipo de música pra você ver! Lembre que quem escreve essa coluna está a um passo dos 30, não casou, está solteiro e só pra vida não ficar pior, pelo menos não mora mais com os pais.
Claro que a maioria dos amigos que me acompanham na balada são mais novos que eu.Estão longe de darem o primeiro tiro na macaca, e isso às vezes é no mínimo desesperador, principalmente quando começa a tocar músicas atuais cheias de coreografias e você consegue no máximo fazer os passos básicos de um pezinho pra lá, outro pra cá. É um tal de "Creu, creu, creu" que ninguém merece, e os joelhos? A dor nas juntas? Junta tudo e joga fora? E Britney, mesmo surtando longe daqui consegue surtar quem está na pista, não mais que as músicas eletrônicas que fazem todos mexerem a parte superior do corpo com movimentos de ir e vir e sem contar com os gritinhos que acompanham esses movimentos "u-hu, vai, vai, vai". Começa a tocar uma música e todos gritam o tal do "u-hu!!!".
As horas vão passando e o dj, acho que com pena dos que não conseguem acompanhar esse samba do crioulo doido começa a querer me agradar (sim, eu fico olhando na cara dele reprovando cada putz-putz que ele coloca) e tenho certeza que influencio quando começa a tocar Pet Shop Boys, Prince, George Michael e outros que, ok são da minha época (humpf). Ai como dói falar isso! Mas enfim, esse é o momento exato que você entrega sua idade, afinal é a sua vez de gritar "U-hu".
Agora o pior são as SUAS coreografias que acompanham essas músicas cheias de soquinhos no ar, movimentos quem lembram abrir um zíper emperrado e por aí vai. O problema é não ligar amigos, continuem cantando alto seus trechos preferidos e fazendo suas coreografias guardadas na memória. Pelo menos os cortes de cabelos não são os mesmos, e as roupas não lembram mais um clipe do Michael Jackson.Se você achou essa coluna dramática demais, relaxe, não leve muito em consideração, to no meu inferno astral e daqui a pouco passa, vou colocar minha calça begue e procurar uma balada com música da minha época, porque ainda bem estamos na moda!